#3 - Agonia

🌷 Florescer Interior #003

III.

Cena do curta-metragem Um Cão Andaluz (1929), de Luis Buñuel e Salvador Dalí

Há a Mão,

a Navalha,

e o Olho.

Com um único movimento, a fissura.

A exuberância do corte perfeito.

“Arranca esse globo ocular!”

“Escancara o que não se quer ver!”

Pronto.

Eis aqui a verdadeira versão de você.

(...)

Há navalhas – e navalhas.

Aquelas figurativas – e aquelas que cortam.

Que literalmente partem a carne.

Que dilaceram. Que fazem sangrar. 

O que fariam delas se pudessem rasgar a alma?

Qual de suas versões doeria mais?

Há uma infinidade de maneiras de experienciar uma fissura.

Arrisco dizer que nenhuma delas está sob controle.

E é justamente o fato de serem inesperadas o que dói mais.

Recorte da obra The Wounded Deer (1946), de Frida Kahlo

A G O N I A

Não há escapatória.

Mas o que se tenta é escapar a todo custo.

Busca-se pequenas doses de esperança, sem atestado de garantia.

Até que inevitavelmente, cedo ou tarde, sua porta é a escolhida.

Essa indiferença crua é algo que assusta. 

O quanto é preciso desejar de novo, para que se possa florescer uma vez mais?

Na mesma medida em que o mundo cabe nas mãos, ele se esvai.

E leva tudo – memórias, afetos, sorrisos…

Tudo. Simplesmente, tudo.

O que não é bom, tampouco mau.

O dia segue a noite, a noite segue o dia.

A vida segue a morte, a morte segue a vida.

O desequilíbrio no equilíbrio, 

em um ciclo infinito que,

à luz da mundana compreensão, 

escancara a carência de qualquer razão.

O que é preciso é ser-se natural e calmo

Na felicidade ou na infelicidade,

Sentir como quem olha,

Pensar como quem anda,

E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,

E que o poente é belo e é bela a noite que fica.

Assim é e assim seja.

Fernando Pessoa

Obrigada por estar aqui!

Com amor,

Gabi.

🌷  Recomendo que você assista ao curta-metragem Um Cão Andaluz.

Ele leva apenas 16 minutos e traz o seguinte convite: 

liberte-se do racional, para o sentir fluir.

Que tal se permitir?

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