#4 - Amor

🌷 Leia – Florescer Interior #004

IV.

O que distingue particularmente o homem

 é amar mesmo aqueles que erram e descaminham. 

Tal amor nasce logo que tu realizas que eles são teus irmãos; 

que eles andam a tropeçar por ignorância, e não por vontade própria.

Marco Aurélio, em Meditações (Livro VII, 22)

Recorte da obra Young Girl eating a Bird, de Rene Magritte (1927)

Você, igual a mim.

Eu, igual a você.

Seres humanos!

Tanto em comum…

Não há um sequer que escape do instinto natural de buscar o melhor para si.

Um elo universal, intransponível, que a todos rege.

Às vezes, por sobrevivência. Outras vezes, nem tanto assim.

Mas que faz de cada escolha, em essência, a tentativa de construir uma perspectiva melhor para o próprio fim.

É então que se nota a palidez da alegria, 

as pálpebras fechadas sobre a crueldade de seus sonhos.

Paul Nougé

Nessa busca pelo bem, seja próprio ou para aqueles que se ama, o que é o erro

O que é a falha? O arrependimento?

O que mais seria, se não uma tentativa de acerto?

Um pequeno fragmento de humanidade, a revelar uma face íntima da própria vulnerabilidade?

É preciso aprender a olhar para os desvios do outro com a mesma ternura que reservamos para os nossos próprios tropeços.

Afinal, temos tanto em comum… eu e você. Tanto, a perder de vista!

O erro que está disponível para mim, ao ver você, sorri.

Como um espelho: ao vê-los em você, os reconheço aqui.

Por que julgar, então?

Errar é um ato de coragem. 

É o esforço de quem busca, de quem deseja, de quem vive. 

Uma tentativa constante de esculpir quem somos – na adrenalina da redescoberta dos limites do que tanto podemos ser.

Recorte da obra La Clairvoyance, de Rene Magritte (1936)

A M O R

Marco Aurélio reconhece que amar os que erram é parte intrínseca do devir humano.

Não enquanto um gesto de bondade, tampouco de generosidade.

Mas sim um vislumbre inerente à humildade de se reconhecer enquanto moldado pelas mesmas fragilidades.

Erros, desvios e tropeços…

Ignorância – daquilo que não se sabe, mas que inevitavelmente se carrega.

(...)

Mais um dia chega ao fim,

cada um segue fazendo o que acredita ser melhor para si.

Onde está o erro? Ninguém o viu.

Imaginou-se morando na vontade de ferir, mas não foi lá que seguiu.

Não estaria ele no “não saber”? No “não enxergar além”?

Pois aqui não se trata de desculpar o erro, acredite.

Mas de valorizar a sabedoria daquele que, ao ponderar suas expectativas sobre o outro, compreende o próprio limite.

Amor, talvez?

Amor.

O de não carregar o peso das feridas alheias,

para manter o coração aberto enquanto ele se desencadeia.

Foge se quiseres, mas no fim do mundo

o meu pensamento protege-te.

Paul Nougé

Eu honro verdadeiramente a sua presença aqui. Obrigada! 

Com amor,

Gabi. 

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