#7 - Urgência

🌷 Florescer Interior #007

VII.

Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte mas que pode me trair e me abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é o meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a parar. Em escrever eu não tenho nenhuma garantia. Ao passo que amor eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse à minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera.

Trecho da Crônica “As três experiências” de Clarice Lispector

Dentre tantas questões que me atravessam, a escrita talvez seja a mais urgente.

A urgência é tanta que, às vezes, sinto que a vida é curta demais, efêmera demais.

Clarice Lispector, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Luis Fernando Veríssimo, Conceição Evaristo… 

Apenas alguns exemplos (brasileiros) de uma infinidade de fontes incomparáveis a se beber.

Tantas referências, entretanto, fazem com que as palavras e ideias me escapem aos dedos.

Qual espaço tatear para construir personagens?

Quais caminhos seguir para entrelaçar narrativas?

Que linhas invisíveis tecer para conectar tempos e desfechos?

Aqui, volto a Clarice Lispector: “escrever é uma maldição que salva”.

E talvez seja isso mesmo. 

Um transcender sem fórmula, sem mapa. Um caminho que se faz ao caminhar.

Acontece que para escrever, o único movimento necessário é mesmo escrever.

Tão claro, límpido e acessível… que me trava.

O paradoxo de buscar pela liberdade, mas temer o voo.

De se ter disponível todo o papel em branco do mundo – e sentir que toda palavra é pouco.

Use inteligência artificial! ” – não foram uma, nem duas pessoas que disseram.

Foram muitas.

Um gerador infinito de possibilidades disponível cem por cento para você em uma escala 24/7 com um QI muito superior à média da humanidade em constante aprimoramento capaz de criar revisar otimizar surpreender muito além do que a mente é capaz de fazer.

Mas a vida é tão curta

Para que tanta urgência?

Quando se escreve, o que se busca?

Não me parece sensato aniquilar do processo a hesitação do pensamento, 

o silêncio entre as palavras,

o espaço entre o erro e o acerto.

A vida é tão curta!

E é por isso que, por ora, eu insisto em ficar com minhas limitações.

Em escrever com as minhas mãos, minha mente, meu coração.

Sim, eu escolho o peso da dúvida.

Do limite da expressão que consigo sustentar, até desatar.

Escolho assim porque a vida é imperfeita – e enquanto expressão dela, quero que minha escrita também a seja. 

Recorte da obra The Allegory of Painting, de Johannes Vermeer (1666).

U R G E N C I A

Esta edição não é o rascunho de um manifesto contra a Inteligência Artificial. 

Por favor, não me entenda mal! 

Eu mesma uso muito esse recurso enquanto copywriter

tanto que já atestei, por “a mais b”, que o Claude é melhor que o GPT.

Mas não aqui.

Aqui, quero trazer perspectiva.

Quero acessar o meu desconforto.

Quero me envergonhar!

Se a ideia é ruim, pelo menos ela é minha.

Se a execução é ruim, pelo menos é genuína.

Perceba: não há nada que me ampare

Nada, além dessa fantasia irrefreável de tecer palavras e de ser vista através da escrita.

E por mais que, assim como Kafka, “eu queira escapar da agitação, calar as vozes ao meu redor e dentro de mim”...

Ainda assim, escrevo.

Pois, para mim, escrever é urgência.

A a vida? Bem, a vida é curta.

Efêmera.

Imperfeita.

Eu quero renascer sempre.

Clarice Lispector

Em breve volto a te encontrar em novas palavras, 

do meu coração para o seu.

Com carinho,

Gabi.

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